Mulheres no pós-carreira - etarismo x autoconfiança

A inserção das mulheres maduras no ambiente de trabalho é um fenômeno relativamente recente em termos históricos. Durante muito tempo, as mulheres eram vistas como responsáveis apenas pelo trabalho doméstico e cuidado dos filhos, e não tinham acesso às mesmas oportunidades de educação e trabalho que os homens.

Foi somente no século XX que as mulheres começaram a adquirir mais direitos e a buscar sua independência financeira. Na década de 1960, ocorreu uma grande mudança cultural nos países ocidentais, com a emergência do movimento feminista e a luta pela igualdade de gênero. Isso levou a mudanças significativas nas leis trabalhistas e na cultura organizacional, abrindo caminho para as mulheres entrarem no mercado de trabalho em igualdade de condições com os homens.

Ainda assim, as mulheres maduras enfrentaram desafios adicionais em relação aos homens e às mulheres mais jovens. Na década de 1970, muitas mulheres que haviam se casado e tido filhos ainda eram vistas como menos comprometidas com suas carreiras do que os homens, o que limitava suas oportunidades de progressão. Além disso, muitas organizações não ofereciam opções flexíveis de trabalho que permitissem que as mulheres maduras cuidassem de seus filhos ou idosos.

Com o tempo, houve uma maior conscientização dessas questões e políticas foram implementadas para abordá-las. Hoje, muitas organizações reconhecem o valor das mulheres maduras e buscam ativamente incluí-las em suas equipes. No entanto, ainda há trabalho a ser feito para garantir que as mulheres maduras sejam tratadas com respeito e tenham as mesmas oportunidades que seus colegas masculinos e femininos mais jovens.

As mulheres enfrentam uma série de desafios e preconceitos no mercado de trabalho, muitos dos quais estão enraizados em estereótipos de gênero e discriminação baseada em gênero.

Abaixo estão algumas das principais dificuldades e preconceitos enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho, juntamente com referências relevantes:

  1. Dificuldades de conciliar carreira/estudos com a família: muitas mulheres enfrentam a pressão de cuidar de filhos, parentes idosos ou outras responsabilidades familiares, o que pode dificultar a progressão na carreira ou a busca de oportunidades educacionais. Isso pode levar à desistência espontânea do mercado de trabalho ou de cursos de educação. Um estudo da McKinsey & Company descobriu que a pandemia da COVID-19 aumentou significativamente a carga de trabalho doméstico para mulheres em todo o mundo, exacerbando essas dificuldades.

  2. Falta de autoconfiança e inseguranças: mulheres também podem enfrentar desafios de autoconfiança e insegurança em relação a seus talentos e habilidades. Isso pode afetar sua capacidade de buscar oportunidades de carreira ou de negociação salarial. Um estudo do LinkedIn descobriu que as mulheres são menos propensas a solicitar aumentos salariais do que os homens, muitas vezes devido à falta de confiança.

  3. Preconceitos de gênero: a discriminação de gênero ainda é uma realidade para muitas mulheres no mercado de trabalho. Elas enfrentam preconceitos em relação a suas habilidades e capacidades, além de serem sub-representadas em posições de liderança e em áreas dominadas por homens. Uma pesquisa do Instituto Ethos mostrou que mulheres negras são as mais afetadas pelo racismo e sexismo no mercado de trabalho.

A situação se agrava quando pensamos em um cenário de iniciar algo novo, carreira ou estudos, acima dos 40, pois além das naturais inseguranças e síndrome da impostora, é como se o trabalhador tivesse um prazo de validade e que a cada ano que se passa, suas chances de conquistar algo e também de ser aceito são inversamente proporcionais. Quanto mais velho, menores as chances. E quando se trata da mulher, o agravante da idade é ainda maior.

Cada vez mais o conceito de etarismo vem sendo discutido por Empresas renomadas, até por que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida ao nascer no Brasil aumentou em cerca de 10 anos nas últimas décadas. Em 1980, a expectativa de vida ao nascer era de 62,5 anos. Em 2020, a expectativa de vida ao nascer era de 76,6 anos.

Esse aumento na expectativa de vida se deve, em grande parte, à melhoria das condições de saúde, saneamento básico, educação e outros fatores que contribuem para o bem-estar da população. No entanto, esse aumento também apresenta desafios e oportunidades para a sociedade, como o envelhecimento da população e a necessidade de adaptação a essa nova realidade.

Desta forma, um/a profissional hoje de 40 anos, está praticamente na metade da sua vida. Como não pensar em um mundo de possibilidades para sua carreira?

Etarismo é um conceito que se refere à discriminação ou preconceito com base na idade, seja ela para mais jovens ou para mais velhos. Essa discriminação pode afetar tanto homens quanto mulheres, mas as mulheres, especialmente as mais velhas, tendem a ser mais impactadas pelo etarismo.

Os impactos do etarismo para as mulheres podem incluir:

  1. Discriminação no mercado de trabalho: mulheres maduras podem enfrentar preconceito e discriminação em relação à sua idade no mercado de trabalho. Elas podem ser vistas como menos produtivas ou menos inovadoras do que seus colegas mais jovens, o que pode limitar suas oportunidades de emprego ou promoção.

  2. Redução da autoestima: a discriminação baseada na idade pode levar as mulheres maduras a questionar sua própria autoestima e autoconfiança. Elas podem sentir que são menos valorizadas ou menos capazes do que as mulheres mais jovens, o que pode afetar sua capacidade de se expressar ou se destacar no trabalho.

  3. Limitações em outros aspectos da vida: o etarismo pode afetar outras áreas da vida das mulheres, como a busca de novos relacionamentos ou a participação em atividades sociais. Elas podem sentir que são julgadas com base em sua idade e serem excluídas de certos grupos ou oportunidades.

Para combater o etarismo, é importante mudar as atitudes em relação à idade e valorizar a experiência e o conhecimento das mulheres maduras. Isso pode incluir políticas que promovem a diversidade etária no local de trabalho e esforços para celebrar a diversidade de idades e experiências.

Na minha experiência profissional, as minhas maiores inspirações e aprendizagem foram de homens e principalmente mulheres com mais de 40 anos de idade.

Na minha trajetória na área de Qualidade na Indústria Farmacêutica todas as lembranças que tenho, desde os primeiros ensinamentos, foram por profissionais mais experientes e muito mais velhos do que eu. Possuíam a maturidade, experiência e sabedoria que eu nos meus 20 e poucos anos nunca conseguiria, por mais energia, tecnologia ou dedicação, desenvolver.

O mais jovem profissional pode ser muito mais “velho” e com entregas medíocres do que o mais “velho” profissional com entregas de qualidade, maduras e mais acertos.

As empresas possuem uma valiosa oportunidade se souberem valorizar e aproveitar estes profissionais de forma a construir times com uma diversidade, inclusão, além de manter o conhecimento de forma a ser passada para as novas gerações.

Você como profissional também tem a responsabilidade de ser o/a protagonista da sua carreira e se reinventar, mesmo com o avanço dos 40, 50, 60 anos, de forma a continuar a se realizar, seja com mudança de emprego, transição de carreira, empreender, enfim, não existe possibilidade diferente para quem precisa trabalhar. E já que é necessário trabalhar, que seja com algo que te realize e esteja alinhado aos seus valores e propósito.

Vimos recentemente o caso da estudante de 40 anos que foi hostilizada por estudantes mais novas. Atitudes como esta serão cada vez menos aceitas, como o mercado necessitará cada vez mais aumentar o tempo de carreira dentro das organizações.

O mentoring pode ajudar muitas vezes no suporte destes profissionais em se adaptar a novas rotinas, realizar transição de carreria, se recolocar no mercado, encontrar uma atuação no pós-carreira que esteja alinhado as suas novas necessidades, como redução da carga-horária, flexibilidade ou até mesmo arriscar um ramo que sempre foi sonhado, mas nunca teve a oportunidade de se arriscar.

Eu mesma sou prova disto, ainda não me considero no pós-carreira, mas foi após os 40 que tive uma necessidade mudar, arriscar e empreender e foi através do Mentoring que consegui fechar meu quebra-cabeça com as necessidades que identifiquei no momento. Necessidades alinhadas ao meu propósito, necessidades financeiras, flexibilidade e qualidade de vida.

Fiz um artigo com dicas de mudanças em diferentes esferas da vida, vem dar uma olhadinha, quem sabe não possa te ajudar neste momento? https://www.carlasapiensa.com/blog/5-passos-para-iniciar-processos-de-mudana-em-qualquer-esfera-da-vida

E você? Quais são suas necessidades? Tem valorizado o/as profissionais e mulheres que têm uma experiência e idade maior que a sua? A Empresa que trabalha tem praticado o conceito de etarismo? Deixe seu comentário!

Referências:

Pillemer, K., & Mueller, S. L. (2021). Aging well: Surprising guideposts to a happier life from the landmark Harvard study of adult development. Penguin.

“Women in the Workplace 2020" da McKinsey & Company

"Age and Gender Discrimination: Interdisciplinary Explorations" de Margaret S. Stockdale e Faye J. Crosby (2011)

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