O que a Vulnerabilidade e a Liderança Feminina possuem em comum?

Vulnerabilidade

Foi se o tempo onde a vulnerabilidade era sinônimo de fragilidade. Diante de cenários de tanta incerteza, a vulnerabilidade se torna uma competência fundamental para os líderes do futuro.

O Líder que já não tolera qualquer tipo de erro, fragilidade, ou até se acha tão autoconfiante que não se dá o direito de errar e falhar já não tem mais espaço no mercado de trabalho.

Para quem não aceitava a vulnerabilidade nas organizações, pôde tirar a prova na Pandemia. Diversas situações nos tiraram o controle de forma a não ter mais como assegurar os funcionários presentes no trabalho, insumos com falta no mercado, prazos e entregas comprometidas, além de uma rotina em que causou mudanças estruturais e conceituais no ambiente corporativo. Durante a Pandemia foi necessário rever crenças limitantes e aceitar que tudo estava vulnerável.

Em momentos de crise todos esperam do líder o próximo passo, se espelham nele para ter o reflexo de atitudes e até soluções que nem sempre podem ser as mais motivadoras, mas muitas vezes necessárias.

E são nestes momentos em que a Vulnerabilidade é a chave da confiança, transparência e até uma forma de fortalecer o time e motivá-lo para mostrar o quanto o Líder também depende deles. O Líder não precisa ser um Super Herói, não precisa ter todas as respostas, não precisa saber tudo. Ele apenas precisa mostrar que todos estão no mesmo barco, que também sabe das dificuldades e pode não ter todas as soluções ou respostas. Que ele também tem medo, vergonha, mas que se todos estiverem com o mesmo propósito e sabendo o que é importante para cada um de sua equipe, a entrega será diferente, pois haverá uma equipe engajada e motivada.

Com a abertura para a vulnerabilidade as pessoas se conectam, pois conseguem identificar as mesmas fragilidades. Brenè Brown, pesquisadora e especialista em coragem e empatia, fez um Ted talk, um dos mais visualizados no youtube, o Poder da Vulnerabilidade, e o Livro A coragem de ser imperfeito. Já destacou que o ser humano precisa de ligações e que conectar-se emocionalmente com outra pessoa é uma necessidade do ser humano.

 

“Conexão é o motivo de estarmos aqui, é o que dá propósito e significado à nossa vida. É a razão de tudo.”


Conforme descrito no livro de Brené Brown, é verdade que quando estamos vulneráveis ficamos mais expostos, temos incerteza e assumimos riscos emocionais. Mas nada disso tem a ver com fraqueza.

A percepção de estarmos vulneráveis ser considerada uma fraqueza passa a ser um mito e também se torna perigoso. Pois é muito mais confortante ver que o outro também não é capaz de mascarar seus sentimentos. Vulnerabilidade não é algo bom ou ruim. É o centro de todas as emoções. Sentir é estar vulnerável. Vulnerabilidade é incerteza, risco e exposição emocional.

Quantas e quantos de vocês se esforçaram para não transparecer vulnerabilidade na sua organização ou para seu time? Por diversas vezes deixamos de ser e expor quem somos para não expor nossa vulnerabilidade. Por medo de julgamento, por medo de não ser modelo, por medo de ser associado a fraqueza. Se entendermos que vulnerabilidade é incerteza, risco e exposição emocional, como Brenè Brown diz, torna-se mais leve, pois a vida é vulnerável.

Quanto mais transparente com seu liderado, maior a confiança, para isso o diálogo, a escuta ativa e a empatia, de forma a se colocar no lugar do outro, faz com que diminuam as barreiras e o outro tenha a satisfação de saber que alguém está ouvindo e/ou deixando ele falar.

E por diversas vezes na minha vida pessoal e profissional fiz a prova do quanto aumenta a conexão quando você é transparente e se permite ser quem você é, demonstrar o que sente. Não são atitudes todo o sempre compreendidas, às vezes podem ser julgadas como fraquezas pelos demais, mas se não superarmos a vergonha de nos expor, não chegamos na vulnerabilidade. Evitamos ser vistos, pois ficamos com medo do que as pessoas vão pensar, se vão duvidar da nossa capacidade ou até nos excluir de alguma oportunidade.

Em um trecho do livro A coragem de ser imperfeito, há um relato em que a autora descreve que todos sentimos vergonha, todos temos o bem e o mal, a escuridão e a luz dentro de nós. Mas, se não nos reconciliarmos com nossa vergonha, com nossos conflitos, acreditamos que há algo errado em nós. Se quisermos ser pessoas plenas, estar conectados com a vida, precisamos ficar vulneráveis. E para isso aprendemos a lidar com a vergonha.

E a autoestima está diretamente ligada à vergonha, pois corremos o risco de transferir a nossa autoestima para o que as pessoas pensam e não para o que realmente faz sentido dentro de nós.

Liderança Feminina

Quando trago o tema de Vulnerabilidade e a Liderança Feminina, faço uma chamada para um assunto que já está em pauta mesmo diante de diversos desafios, mas dentro das corporações cada vez mais se olha com o aumento da lente para a diversidade. Sabemos que no escopo diversidade o foco está em todas as maiorias minorizadas e que de todos os desafios a Liderança Feminina talvez seja o mais fácil de se atingir, apesar de ainda muito distante.

Quando iniciei minha carreira há mais de 20 anos atrás, não havia o foco de diversidade e os cargos de Liderança eram poucos na alta direção, sempre tive a lente de que as mulheres nas posições de liderança, pagam um preço alto, tinham que abrir mão de uma parte da sua vida pessoal que lhes custava um preço alto, e por diversas vezes recebi a recomendação de ser mais durona, menos boazinha, ou seja, seguir um padrão mais masculino, que era referência de respeito e sucesso.

Mas meu estilo sempre foi esse, pois eu era assim, não somente por ser mulher, mas por que meus valores sempre me guiaram para ser uma Gestora com olhar para o outro, com respeito pela sua vida pessoal e profissional, com cuidado para ser respeitada por ser uma líder e não por hierarquia. E quanto mais eu crescia, mais tinha a certeza que os frutos que eram conquistados, eram com respeito e com o meu estilo de liderança. O meu estilo, um estilo maternal, de carinho, cuidado e que busca conexão. Claro que me questionava muitas vezes se eu estava no caminho certo, se eu deveria mudar meu estilo, mas se mudamos nossa essência, entramos em conflito e isso abala nossa autoconfiança. Muitas vezes tinha que atuar com diferentes papéis dependendo do ambiente e as pessoas com quem eu estava, mas foi com a vulnerabilidade que consegui transitar de forma a não impactar nos diferentes pontos de vista e manter meu estilo de Liderança.

Nós mulheres somos especialistas em nos preparar tecnicamente, sempre estamos estudando, nunca achamos que estamos prontas ou preparadas o suficiente, então nos munimos do máximo de conhecimento para nos alimentar como se fosse a nossa barreira, pois o tempo todo o mundo nos exige provas de que realmente somos boas o suficiente. E até mesmo duvidamos de nós mesmas. E esta informação está no IBGE, ressaltando que na população com 25 anos ou mais, 19,4% das mulheres tinham nível superior completo em 2019 e entre os homens este percentual chegava a 15,1%

A provocação que trago é que de nada adianta um alto investimento de tempo e dinheiro em conhecimento técnico se não desenvolvermos o nosso autoconhecimento. O mundo corporativo nos exige transformações diariamente, inteligência emocional, relações interpessoais cada vez mais desafiadoras, além da pressão de agilidade, metas, resultados e o acúmulo de funções.

E quanto mais você se dedica ou quanto mais precisa se capacitar, há a demanda ainda maior de uma rede de apoio. As demandas externas aumentam (trabalho, estudos, inteligência emocional) e as internas também (Família, filhos, autocuidado, saúde mental).

Além da rede de apoio, quando as mulheres se unem, criam uma força, uma conexão fora do comum.

Eu relaciono a vulnerabilidade com a Liderança Feminina, pois com o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho, podemos observar competências específicas das mulheres que mostram sua vantagem em cargos de Liderança, comparada às demandas atuais de uma posição de Liderança, segundo pesquisas que encontrei.

A colaboração, a sensibilização, a sua abertura e a capacidade de ser vulnerável na gestão feminina já são fortalezas importantes. A vulnerabilidade na Liderança Feminina já faz parte, devido ao cenário em que ela está inserida, devido aos diferentes papéis em que ela assume, além de aceitar que não precisa ser perfeita e assim, a sua capacidade de conexão e empatia a destaca com uma Liderança mais Humanizada.

No geral, as pesquisas mostram que a Liderança Feminina tem seus destaques em: 

- Maior empatia: costumam ter mais empatia que os homens em se colocar no lugar do outro e ter uma Liderança mais humanizada

- Maior Flexibilidade: As mulheres são multitarefas e não estou relacionando às tarefas de casa, mas em realizar as tarefas da Empresa e estar com olhar atento para suas responsabilidades e necessidades dos colaboradores

- Desenvolvimento de Relações Interpessoais: com base na escuta ativa, empatia e comunicação não violenta, consegue criar uma conexão e relações na base da confiança com relacionamentos de alta qualidade.

- Potencializar a cooperação e criatividade: por serem multitarefas, tendem a compartilhar mais as necessidades da Empresa ou grupo e pedir ajuda ao time.

- Melhora no clima organizacional: no geral as mulheres adotam estilos de liderança menos autoritários, o que dá maior abertura para feedback e pedidos de ajuda, proporcionando um ambiente mais acolhedor, com pessoas mais motivadas e maior retenção de talentos. 

Em 2019, uma pesquisa em Harvard demonstrou que pela primeira vez as mulheres apresentaram um score maior do que os homens na maioria das competências de Liderança, tais como: resiliência, tomada de iniciativa, foco em resultado, autodesenvolvimento, integridade e honestidade, inspirar e motivar os outros, construir relações, trabalho em equipe, comunicação, velocidade de liderança, resolver e analisar problemas e estabelecer metas desafiadoras.

Enfim, a provocação deste artigo não é para defender que a mulher é melhor que o homem ou que devemos ter somente mulheres no cargo de Liderança, de forma alguma, a provocação é para provar com estudos científicos e por competência, que a mulher tem tanta capacidade quanto o homem e que uma mescla de ambos torna uma equipe muito mais competente e com, maior diversidade, é possível ter um olhar até mais autêntico e direcionado para diferentes processos, colaboradores e clientes.

Meu objetivo nada mais é do que mudar as estatísticas e não esperar 130 anos como são as prospecções para termos a equidade de gênero nas organizações com o mesmo número de mulheres na Liderança, salários compatíveis e processos que fluam com as escolhas das posições independente de gênero ou padrões atualmente não mais aceitos para Empresas que se motivam a buscar a diversidade dentro dos seus pilares e prioridades para os próximos anos.

Mas estas mudanças não dependem somente das organizações, dependem de nós, depende de cada um de nós olhar para dentro de nossas casas, dentro do nosso departamento, das nossas Empresas e não deixar de rever se estamos com a lente correta quando tivermos que escolher ou nos posicionar para o tema.

Se identificou com o assunto? Se interessou em saber como você pode mudar? Me procure e junto/as vamos falar mais sobre isso e achar a melhor solução para você ou sua Empresa.


Referências:

Research: Women Score Higher Than Men in Most Leadership Skills (hbr.org)

https://forbes.com.br/forbes-collab/2021/03/marina-daineze-lideranca-feminina-o-que-podemos-aprender-com-outras-mulheres/

Como a vulnerabilidade na liderança pode fortalecer a conexão do time - Runrun.it Blog

Livro A coragem de ser imperfeito – Autora Brené Brown – Editora Sextante

Previous
Previous

Como ajudar as mulheres a crescerem nas Organizações e evitar que renunciem?